2013/08/14

Disposta loucura




 Já era, já foi, já deu
 Deu? Deu nada não!
 Ficou mesmo ao Deus dará
 Dará?
 Ficou ao leu, no céu do mar
 Pirou toda a insanidade
 Ensimesmou o sonho curtido
 Cutucou fundo um pesadelo
 Que medo, que nada!
 Matou a sede com areia
 Saciou a fome com fome
 E não é que atrevi demais?
 Ato falho... Pode ser...
 Cansei de querer acertar
 Aceitei errar sem desculpas
 Culpada de ficar no riacho
 Diacho! Não tem jeito que dê!
 Surpresa nas fatias do bolo
 Olha lá! Tem pipoca pulando
 Não são estrelas cintilando
 São as luzes dos meus postes
 (Ando apaixonada por postes)
 Um fuste com lustre é sem igual
 Lá no alto passa o trem apitando
 A rota dos balões foi invadida
 Colisão feliz existe, eu sei, sabia?
 Sim, não e aquele toque duvidoso
 Liga não, falta-me a hábil malícia
 Assim vou dando bandeiras de sobra
 Que droga! Raio que nunca parte!
 Parto eu, tempestade que estou...


2013/08/11

Sal da terra



Átimo

 Eu não quero nenhuma das suas preces
 Segure minhas mãos por um instante
 Somente pelo tempo que esta lágrima cair
 Não estou querendo, eu estou doendo
 Não lhe darei nada desta dor que é minha
 Nada lhe será tirado além de um instante
 A eternidade estará sempre à sua espera
 Agora eu só te peço que silencie um átimo
 Deixa que este soluço, trancado como ladrão
 Rompa pelo meu peito e ecoe na minha boca
 Não me deseje nada do que não poderei ter
 Não me peça para que eu fique em paz
 Hoje eu quero e preciso viver o meu inferno
 Hoje é preciso que eu chore minha humanidade
 Hoje eu quero acusar e não me desculpar
 A minha maternidade foi violentamente ferida
 Não agradecerei a nada e a ninguém por isto
 Ao menos por um instante me deixe ser humana
 Ao menos por um instante preciso ser humana
 Se puder, por este instante segure minhas mãos

Meum cor est in planctus ingens
 
 

2013/01/25


Aldravias V


 

Aldravias V

(1)
serenas
bandeiras
desalinhadas
abstração
florida
fincaremos


(2)
passo
sem
você
carro
céu
imoto


(3)
coração
navegante

em
salmoura
ardo
doo


(4)
era
eu
sou

eu
mas
evola


(5)
néscio
congela
enormidades
asfixiando
duas
multidões 
 

2012/08/18

Aglutinação




Aglutinação

Que poderia dizer das minhas esquinas,
Dos meus becos e das minhas ruelas,
Se nem minhas avenidas conheceu?
Que lhe é mais importante que seu chá
Esse aí, com sabor de água salobra?
Quantas juras sabia que não cumpriria
E não lhe pesa nem uma sombra...
Eu carregando disformes pedras de chumbo,
Elas não são minhas; mas temo que lhe esmaguem.
O seu sangue não é doce e nem é compatível,
Por que me interessaria por ele? Aglutinação?
Não gosto de imaginar sagu nas minhas veias,
Nem mesmo em minha boca suportaria,
Não há vinho que supere o seu amargor...
Essa unção nodosa é inteiramente incongruente,
Por alguma anomalia desconhecida preservo;
Mesmo detestando sagu!