2013/08/20

Poeta piá




 Naquele olhar a tristeza refinada se revira em alegria
 O poeta piá, arisco no pulo do gato, vai além, vai até lá
 Sua carta é guardada na mangueira do seu infinito quintal
 Pontua com tanto esmero, sublinhando de solar amarelo
 E de branco, em banco desbanca o estatuário e sorri
 Desmancha nuvens em seus voos de simulada simetria
 Brinca de pousar, aquietando grãos de areia que saltitam
 Se o mundo fica pequeno, conhece a arte de multiplicar
 Inventa galáxias, explode universos e viaja até onde se lança
 Iça estrelas, peneira poeira, dá corda na terra para ela girar
 Em suas mãos estão todas as regras para muitas quebrar
 Doador de brilho, usa do seu cinzel e ajeita até o que nem há
 É e não fica, fica sem ser um tanto sem querer, o poeta piá
 Há instantes em que sua alegria é apunhalada de melancolia
 Então todos os céus se derretem em lacrimejantes cores
 Todas as músicas se entrelaçam no descompasso de dores
 Coisa mais triste, assim não persiste e se pendura ao luar
 Piá faceiro, tão assim brejeiro, é exímio na arte de ensinar
 Ainda que no remanso, reluz seu encantamento contagiante
 Tonta que não sou, olho e brindo o mestre, o poeta e o piá